Diplomacia não é só bravata: o que o Brasil nos ensina sobre estratégias inteligentes de negociação
- Maurício Kenyatta
- 1 de ago.
- 3 min de leitura

Nas últimas semanas, o anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros por parte do governo Trump reacendeu o debate sobre o papel da diplomacia nas relações internacionais. Em meio a uma medida agressiva, com claros contornos políticos, o Brasil respondeu com uma postura que pode não agradar aos ansiosos por confrontos imediatos; mas que revela uma estratégia de negociação inteligente, racional e firme. Um recado importante: diplomacia não é sinônimo de submissão, tampouco de bravata. É estratégia.
A falsa dicotomia: reação dura vs. passividade
O senso comum costuma colocar a diplomacia em um dilema: ou se bate na mesa e se grita, ou se abaixa a cabeça e aceita tudo. Mas isso não é negociação; é teatro. A diplomacia eficaz reconhece que há momentos de tensão em que respostas simbólicas ou retóricas não resolvem. Pelo contrário, podem agravar o problema.
Diante do “tarifaço” de Trump, o governo brasileiro, por meio do vice-presidente Geraldo Alckmin, adotou uma abordagem gradual e bem fundamentada. Primeiro, identificou com precisão o real impacto da medida: cerca de 36% da pauta exportadora seria atingida em cheio, enquanto os demais produtos foram preservados ou já estavam sob regimes tarifários especiais. Segundo, iniciou negociações para reduzir esse percentual, buscando compensações e articulando canais institucionais, como a OMC. Terceiro, aprovou a Lei de Reciprocidade Comercial, que permite responder na mesma moeda — mas com critérios técnicos e jurídicos claros.
Diplomacia é construção, não ataque
A resposta brasileira tem sido acusada por alguns de “fraca”, talvez por não espelhar o tom agressivo da medida americana. Mas o que está em jogo não é performar força — é preservar empregos, proteger setores estratégicos e manter margem de manobra para futuras negociações. Uma diplomacia madura sabe distinguir entre insistir em princípios e incendiar pontes.
A linha adotada pelo Brasil lembra a máxima de Sun Tzu: "a suprema arte da guerra é subjugar o inimigo sem lutar." No tabuleiro geopolítico, especialmente em tempos de incerteza como os de 2025, o custo de um erro pode ser alto demais. Mais do que falar alto, o Brasil está ouvindo, calculando, reagindo com base em evidências.
O risco da diplomacia performática
O caso também serve de alerta para os que desejam substituir a diplomacia por redes sociais, memes e insultos. A diplomacia performática, que busca curtidas antes de soluções, pode render popularidade de curto prazo; mas compromete acordos, isola o país e agrava tensões que poderiam ser resolvidas por meio do diálogo. A bravata raramente serve ao interesse nacional. Serve ao ego.
O que podemos aprender
A principal lição do caso é que a estratégia diplomática brasileira soube reconhecer a complexidade do problema e manter múltiplos caminhos abertos. Não se entregou ao impulso de responder no mesmo tom, mas também não ficou inerte. Ao mesmo tempo em que acionou os canais multilaterais e jurídicos, manteve negociações bilaterais e reafirmou sua disposição de buscar novos mercados; como no aceno à China feito por Lula.
Essa postura reflete uma diplomacia profissional, ciente de que o objetivo não é ganhar a disputa de narrativas, mas proteger os interesses do país de forma sustentável.
Conclusão: firmeza não é gritar, é saber o que se quer
Neste primeiro momento, o Brasil mostrou que firmeza não está em elevar o tom, mas em saber o que está em jogo, construir alianças, usar as instituições e manter a porta da negociação entreaberta, mesmo quando o outro lado tenta fechá-la com força.
A diplomacia brasileira nos lembra que inteligência estratégica não se vê no volume da voz, mas na habilidade de alcançar objetivos com o menor custo possível. E nesse jogo, o Brasil começou com o pé certo.




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